ATO I — Calafrio

O frio na barriga antes de uma noite fora. Pelo vão da porta, seus sentimentos estão estreitos demais para verdadeira interpretação, mas curiosos o suficiente para perturbação. Você sai de casa, ciente do início de algo — sem desejo de começo.

ATO II — Sol de Inverno

Você vira a esquina errada, mas não é erro sequer. Faz novos planos. Assiste a uma dança de escapes artificiais — uma coreografia intoxicante de vícios. Durante esta e outras noites, a passagem do tempo reverbera como a música e o falso senso de conforto.

ATO III — Hipotermia

Até os maiores espetáculos chegam ao fim. Quando as cortinas fecham, é preciso voltar para casa — onde há só você e o frio onipresente. Na sua sala, tudo é geada. Você cede: às vezes, só é preciso congelar.

ATO IV — Primavera

Um fio de luz descobre seu rosto escorado no sofá. As luzes não são quentes, mas já não são fluorescentes também. Aquela mesma porta não é mais um combinado estreito e curioso — é perfeitamente aberta. Você sai de casa e encontra uma Sempre-Viva na soleira.

EPÍLOGO — Tampouco

O instante antes de sair, os caminhos errados corretamente escolhidos, a derrota frustrada e o encontro das flores — tudo destinado a acontecer e se repetir. Sendo assim, os frios na barriga revelam a semelhança entre fim e começo.